quinta-feira, 29 de setembro de 2011

[INSTRUCAO] Generosidade


A generosidade é, obrigatoriamente, uma medalha de duas faces:
a disponibilidade de dar e a disponibilidade de receber. 
Maria Magdalena Lana Gastelois


DAR é um gesto para o outro, um sair de si, um olhar e ver, um reconhecer, um se abrir. A dádiva tem um significado próprio que independe do valor financeiro, pode ser um pote de mel, uma flor, um cartão, um pouco de si; um gesto, que às vezes é difícil de fazer e pode alegrar ou aliviar o outro de um grande peso, nos retornando também em alívio e alegria por nos mostrar que somos generosos; pode ser um paninho de prato que fizemos ou compramos pensando na cozinha do outro, um pote de geléia com o fruto do nosso quintal, ou escolhida numa prateleira se moramos em apartamento. 
Uma muda de planta de nosso jardim, preparadas num saquinho prevendo o natal, um pouco de nossa flor e sol... Que vão talvez gerar, um dia, o gosto doce de um fruto.
Dar é como doar sangue: sai de mim, e se aumenta assim.
Dar é um impulso, de uma força centrífuga, que parte do EU para o OUTRO.
E volta num olhar, num prazer, em um muito obrigado.

RECEBER também é um ato de sair de si, se deixar reconhecer pelo outro, vem de uma força centrífuga, de fora para dentro e da faculdade de se abrir para fora. Às vezes a pessoa tem muita dificuldade em receber, sente-se constrangida, quer logo retribuir com outra dádiva superior até em preço, para não ficar devendo; outras verificam o preço do presente para simplesmente se sentirem seguras de sua cotação. Também, às vezes ser generoso significa aproveitar a opinião que nos dão. 
Sem se sentir julgado ou invadido por medo de parecer mais fraco, principalmente se a pessoa que dá tem mais experiência de vida ou naquele campo de trabalho; como se um bordado maravilhoso feito por mãos mais hábeis do as minhas pudesse me dizer que não sou capaz: de repente, é muito legal conviver com o OUTRO justamente capaz de bordado que pensou em mim; também a falta de generosidade revela um medo de ser pouco, de ter pouco, principalmente na hora em que se está mais necessitado, levando a repudiar uma ajuda preciosa que me daria oportunidade de procurar, calmamente, o meu caminho, curtindo o gesto de ajuda; medo da dependência, de que o outro esteja me abrindo espaço para se apropriar de mim; aí perco o momento, o tempo, e o espaço que poderiam ser enriquecedores para o meu coração, se estivesse aberto.
A gente é só, mas não está sozinho. Este é nosso espaço e tempo com que fomos premiados sem nada pedir. Ganhamos este corpo, essa casa, país, língua, este chão, este pão.  Este EU, e não outro. Ganhamos as pessoas que de uma forma ou de outra, compõem ou cruzam nosso caminho. 
Este pai, esta mãe, filhos, sobrinhos, primos, sogras, sogros, tios, avós. Amigos.  Este companheiro/a: ganhamos, vivenciamos, perdemos e a vida continua. Uns vão, outros ficam. Não se esquecer de que somos todos provisórios.  Aqui, agora, este é nosso quinhão no cosmos em movimento, indo. Somos sós mas não estamos SOZINHOS.
Descobrir. Reconhecer. Abrir. Compartilhar.
Parar de rodar em volta do próprio umbigo, olhar e ver. 
Gerenciar o que recebemos da vida, e construir nossa história

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